Desde cedo, somos ensinados a competir em praticamente todos os aspectos da vida, especialmente na educação. Nas escolas, a competição é evidente em todos os lugares: nas notas, nas comparações entre os alunos, e na incessante pressão para ser o melhor. Mas, o que realmente está por trás dessa competição? E qual é o impacto dela nas crianças e nos jovens?
A competição, muitas vezes, é apresentada como algo inevitável. Dizemos a nós mesmos e aos nossos filhos que devem competir para sobreviver e ter sucesso, utilizando até exemplos do mundo animal para justificar essa necessidade, tal como o leão caçando sua presa.
Porém, no mundo social seguimos outras dinâmicas criadas por nós mesmos. Nas escolas, especificamente, essa mentalidade se reflete em práticas como a atribuição de notas e a comparação constante entre alunos. Mesmo a atual LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/1996) afirma que a avaliação deve ser contínua e cumulativa, com os aspectos qualitativos prevalecendo sobre os quantitativos. Ela não menciona a atribuição de notas de 0 a 10 para classificar seres humanos livres.
Recentemente, uma aluna fantástica chorou ao descobrir que não tirou uma nota alta na avaliação por medo de contar aos pais. Uma pressão enorme sobre uma jovem que poderia ter inúmeras oportunidades para refazer quaisquer atividades e descobrir a si mesma no processo educativo. Ela possui habilidades valiosas que não são reconhecidas pelas métricas tradicionais e, assim, acaba se sentindo inadequada e desvalorizada.
Infelizmente, esse é apenas um exemplo de como muitos pais e professores se apoiam em exemplos de exceção, como um aluno pobre que conquistou um importante cargo ou passou em uma grande universidade, esperando que todos os alunos se esforcem além de seus limites. Mas esquecem da grande maioria dos “fracassados” que não têm seus rostos estampados em outdoors, nem servem para políticos ou caçadores de cargos perpetuarem a promoção de que esta ou aquela escola possui os “melhores alunos da cidade”.
A realidade não é como queremos, e isso é um fato difícil de admitir. Contudo, não significa que todos devem seguir o mesmo caminho.
"Nossa sociedade frequentemente não valoriza os cursos técnicos, depositando todas as esperanças na mudança de vida ao entrar em uma universidade. No entanto, esse pode não ser o desejo de muitos alunos. "
Alguns preferem abrir um negócio, construir uma família e seguir caminhos diferentes do mundo acadêmico. A competição estabelece um caminho único para todos, o que é outra forma nociva de nivelar seres humanos distintos e ignorar suas individualidades e aspirações únicas.
Essa pressão para se tornar o melhor (o padrão) muitas vezes leva a consequências devastadoras para aqueles que não conseguem alcançar esses padrões. Certo dia, ao aplicar uma avaliação, observei como a educação, vista como uma corrida de cavalos para ver quem chega à frente, se torna facilmente alvo de pequenas corrupções. Tentativas de burlar o sistema para obter migalhas de pontos são uma consequência desse aparato competitivo estimulado nas escolas.
Isso não acontece somente aqui no Brasil, mas está presente em outras histórias reais de estudantes ao redor do mundo. Um exemplo marcante é o aumento alarmante de casos de ansiedade e depressão entre jovens. Em países como Japão e Coreia do Sul, onde a competição escolar é extremamente intensa, as taxas de suicídio entre estudantes são assustadoramente altas. Nos Estados Unidos, o escândalo de admissões universitárias de 2019 revelou até que ponto alguns pais estão dispostos a ir para garantir que seus filhos entrem nas universidades mais prestigiadas, muitas vezes sem considerar o bem-estar emocional dos próprios filhos.
Além disso, a competição constante cria um ambiente onde a verdadeira aprendizagem e o desenvolvimento pessoal são sacrificados em nome de alcançar boas notas e reconhecimento. As crianças são ensinadas a seguir padrões rígidos de comportamento e pensamento, muitas vezes sufocando a criatividade e a capacidade de pensar de forma crítica e independente. Já ouvi um aluno dizer pelos corredores: “- Essa escola parece uma prisão”. Em vez de descobrir suas próprias paixões e interesses, elas são moldadas para se encaixar em um padrão de sucesso imposto pela sociedade. A utilização das notas, tal como é feita hoje, visa promover medo e obter controle, nada mais.
É crucial questionarmos por que atribuímos tanta importância à competição. Será que realmente precisamos competir para compreender a nós mesmos e ao mundo ao nosso redor? Quando estamos inseguros sobre quem somos, buscamos nos afirmar através da comparação e do sucesso externo.
Para uma verdadeira compreensão de nós mesmos e do mundo, precisamos olhar além da competição. Devemos criar ambientes educacionais que valorizem a individualidade e promovam o autoconhecimento. Em vez de pressionar nossos filhos a serem os melhores, devemos incentivá-los a descobrir suas próprias paixões e a desenvolver uma compreensão profunda de si mesmos e do mundo.
A mudança começa com a forma como educamos nossas crianças. Ao priorizar o autoconhecimento e a verdadeira aprendizagem sobre a competição, podemos criar uma sociedade mais saudável e equilibrada, onde o sucesso é medido não pelo reconhecimento externo, mas pelo crescimento pessoal e pela realização genuína. É hora de repensar nosso sistema educacional e a forma como preparamos nossas futuras gerações para o mundo.
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