Nos últimos anos, venho refletindo profundamente sobre o processo educativo e o papel residual que o ser humano e suas emoções ocupam na escola. O ambiente escolar, em sua essência, tornou-se um local de mera transmissão de conhecimento acumulado ao longo das gerações. Contudo, raramente dedicamos tempo para discutir o medo, a ganância, a solidão, a felicidade ou as dores que a humanidade enfrentou para chegar ao momento presente.
A escola, a meu ver, se distanciou da humanidade como um bloco histórico e, ao invés disso, depositou sobre o indivíduo isoladamente o peso de manter viva nossa herança cultural. E quando dividimos os seres humanos baseados em critérios abstratos, começam a surgir os problemas.
Reduzimos a educação em seu sentido mais amplo a um processo de formação de funções: seres humanos despojados de suas emoções são preparados para desempenhar atividades específicas na sociedade. É claro que a sociedade precisa de profissionais como eletricistas, padeiros e advogados, mas o papel da educação não deveria se restringir a isso.
O espaço escolar deveria ser um palco para a criatividade, onde a alegria de aprender algo novo fosse alimentada pelo simples fato de sermos humanos. No entanto, a comparação e a cobrança por desempenho entre os jovens criam um efeito contrário. A educação não deveria ser reduzida a um único objetivo.
"A verdadeira função da educação não é preparar-vos para serdes um funcionário, um juiz ou um primeiro-ministro, porém ajudar-vos a compreender toda a estrutura desta sociedade corrompida e permitir-vos crescer em liberdade, de modo que sejais capazes de quebrar todas as prisões e criar uma sociedade diferente, um mundo novo".
Krishnamurti, A Cultura e o Problema Humano.
A citação de Krishnamurti nos provoca a refletir profundamente sobre o papel da educação em nossas vidas. Se o objetivo da educação é apenas nos moldar para papéis pré-determinados em uma sociedade corrompida, então ela falha em nos guiar rumo à liberdade e à criação de um mundo diferente.
Precisamos de uma educação que ultrapasse os limites convencionais, que abra espaço para a compreensão profunda da sociedade em que vivemos e que nos capacite a agir com liberdade e autenticidade. Essa é a educação que deveríamos buscar — uma educação mais humana.
O modelo educacional atual, infelizmente, muitas vezes promove o medo em vez de libertar as mentes. Desde cedo, somos condicionados a temer o fracasso, a rejeição e a desaprovação dos outros, o que inevitavelmente nos conduz ao sofrimento.
As notas e avaliações tornam-se fontes de ansiedade, enquanto o comportamento é rigidamente moldado para se adequar a expectativas sociais pré-definidas. Em vez de encararmos e compreendermos o sofrimento, acabamos por escondê-lo sob o manto da conformidade, buscando no processo um ganho momentâneo que a instrução pode nos proporcionar, mas que não nos liberta de verdade.
A escola, que deveria ser um espaço de crescimento e descoberta, frequentemente se transforma em uma prisão emocional, onde os alunos são moldados para se encaixarem em papéis específicos, sem questionar se esses papéis refletem quem realmente são ou quem desejam se tornar. Esse medo permeia todos os aspectos da vida escolar.
Os estudantes temem não ser "bons o suficiente" para passar em um vestibular ou para alcançar os padrões impostos por seus pais e professores. Essa pressão constante sufoca a criatividade e inibe o desenvolvimento emocional. Em vez de explorar seus talentos e paixões, muitos alunos se veem presos em um ciclo de conformidade, buscando aprovação externa em vez de realização interna.
Para que a educação se torne verdadeiramente humana, é essencial reconhecermos a importância das emoções no processo de aprendizado. O desenvolvimento emocional é tão vital quanto o desenvolvimento intelectual. Alunos que compreendem e gerenciam suas emoções estão mais bem equipados para enfrentar os desafios da vida e estabelecer relacionamentos saudáveis. Infelizmente, as emoções são frequentemente negligenciadas nas salas de aula.
Os currículos tendem a focar em disciplinas acadêmicas, deixando de lado o apoio necessário para que os alunos compreendam suas emoções, desenvolvam empatia e construam uma autoestima sólida. Sem essa base emocional, qualquer conhecimento adquirido permanece superficial e desconectado do ser.
Uma educação mais humana deve centrar-se no desenvolvimento integral do aluno, ajudando-o a compreender a si mesmo e o mundo ao seu redor. Isso significa criar um ambiente onde o medo seja substituído pela curiosidade, onde os alunos sejam incentivados a explorar, questionar e desafiar as normas estabelecidas.
Este tipo de educação não prepara apenas para uma carreira futura; ela capacita os alunos a se tornarem agentes de mudança em suas próprias vidas e na sociedade. Eles aprendem a questionar a estrutura social existente e a buscar alternativas que promovam justiça, igualdade e bem-estar coletivo.
O objetivo final de uma educação mais humana é preparar indivíduos capazes de criar uma nova sociedade — um mundo onde a liberdade, a compaixão e a justiça sejam valores centrais. Isso só será possível se começarmos a educar nossas crianças e jovens de uma maneira que vá além da simples transmissão de conhecimento. Precisamos cultivar mentes livres, corações compassivos e espíritos resilientes.
Devemos, portanto, transformar nossas escolas em ambientes que promovam o crescimento emocional, intelectual e social dos alunos. Isso implica repensar o que valorizamos na educação, priorizando o desenvolvimento integral do ser humano em detrimento da preparação para exames e da conformidade às normas sociais. Ao fazer isso, rompemos com a situação atual e, quem sabe, daremos passos significativos para criar uma sociedade mais justa, compassiva e verdadeiramente humana.
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